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Não é isto em mim apenas um sentiínento instinctivo ; é mais: é o cumprimento d'uma obrigação, ■ Foi contraida em Lisboa aonde recebi d'elles directa- mente, e por intermédio de v. s.% provas de muita con- sideração. Muito ha que eu procurava em mim mesmo como lhes daria um signal do meu reconhecimento; todos os que o meu espirito excogitava me 'pareciam somenos: e eram. Na noite de 5 de maio d'este anno, se não me engana a memoria, assisti a uma das festas mais civilisadoras, que tem havido em Portugal. Era no salão do theatro de D. Maria II a festa anniversaria do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas 'de que v. s. a é presidente effectivo. VI Os que lá por fora nos julgam mal, quizera eu que es- tivessem ali, no^templo do trabalho: e fico por que a noite de 5 de maio os havia de converter a nós. Quiz para logo escrever as impressões que lá colhera, e offerecer o meu trabalho ás classes operarias. Dei os- primeiros traços, mas achei-os tão imperfeitos que me despersuadi do meu propósito. que porém não pude foi riscar do coração e da memoria a noite de 5. de maio, e a festa dos artistas de Lisboa. Forçoso foi ceder ao meu irresistível desejo. flfc Ahi vão^esses pobres versos; taes como são, não ^Ê pertencem, mas av. s. a como representante das classes laboriosas. Offereço-lh'os como um testemunho de amisa- dc e gratidão. Vão n'elles egualmente um tributo de saudade ás me- morias para sempre vivas de Passos Manuel, e de José Estevão ; e um testemunho de consideração e respeito ao bravo patrão Joaquim Lopes, o benemérito da humani- dade. Queira v. s. a aceitar e offerecer ás classes laboriosas, a cujo Centro tão dignamente preside, os protestos de es- tima, de consideração e de respeito, do seu ■ Parada de Goola, 9 de Outubro de 1M3. AMIGO Themai Ribeiro. CENTRO PROMOTOR DOS MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS ILL mo E EX mo Sr. *A mesa do Centro Promotor dos .Melhoramentos das Classes Laboriosas, cheia do maior jubilo, vai hoje par- ticipar a v. ex. a as deliberações tomadas pela assembléa gerai da mesma associação acerca da nobre offerta, que v. ex. a ultimamente lhe fez. Ex. mo Sr. Não cabe nas limitadas forças da mesa expor a v. ex. a o enthusiasmo com que foi recebido o poemeto novas conquistas, que v. ex. a se dignou dedicar ás classes laboriosas de Portugal representadas no Centro Promotor; v. ex. a , com o condão que só é dado ao génio, bem per- cebeu as tendências d'esta associação, e ella que assim viu adivinhados os seus intuitos, não sabia como demons- trar a alegria que similhante facto produzira no animo de seus sócios. Os seus esforços e os seus trabalhos esta- vam ali compendiados; o horisonte para que se alongam suas vistas rasgára-o o auctor do poema; e tudo isto quem o fizera? O poeta Thomaz Ribeiro, o cantor do D. Jayme. Que motivo para glorias, para orgulhos bons, para ale- grias inexplicáveis! Elies, os pobres, laboriosos soldados do futuro, ali estavam exalçados; e, mais ainda do que VIII elles, e n'isso se fundava principalmente todo o seu en- thusiasmo, a sua idéa, a idéa por que hão padecido fome e sede de justiça, ali se levantava, ali se lhe dava devido e leal galardão. O poeta aproximara séculos, e cantara as felicidades das gerações por vir, pelos ténues traços que já deixam perceber as conquistas de hoje. Em que peze a espíritos myopes, não é possível occul- tar a grandiosa revolução que depois de 4848 se vai operando no regime social. 4789 emancipou o homem, mas deixou escravo, e envilecido o trabalho. 4848 resfflP tou-o e nobilitou-o. A revolução pareceu passar. Houve almas cândidas que assim o acreditaram; mas illudiram-se. A revolução não fora mais que uma erupção d'aquelle Vesúvio que em tanta ebulição traz os elementos que o constituem; a lava correra, a terra fecundada por ella ficara, e dos seus effeitos, governos e governados tiraram lição. Quando, despreoccupado o espirito, se lançam os olhos pelos actos emanados do poder em muitos estados da Europa, vê-se que o pensamento da reforma da orga- nisação social, e das leis que até hoje regularam o trabalho presidio á sua elaboração. Quem quer suffragio universal não pôde querer a miséria para milhões de homens. Seria espectáculo hediondo aproximar á urna, para o exercício do mais augusto dos direitos humanos, figuras apenas animadas por escaco sopro da vida, lívidas, esquálidas e cobertas de andrajos, sendo como um protesto solemne contra as bases constitutivas da sociedade, e mesmo con- tra ò novo direito em que as investiam. Quem dà ao homem toda a amplitude para exercer as suas faculdades, não pôde negar-lhe o direito de viver IX trabalhando. Aproximar, pois, a desejada época em que todo o braço ache emprego para a sua actividade, toda a intelligencia esphera para se desenvolver, é o generoso pensamento de muitos homens da moderna geração. E como aproximar esta feliz edade, sem luctas, sem sangue, sem cadafalsos, sem hecatombes? Como trans- formar o egoismo em sociabilidade, a exploração do ho- mem pelo homem em mutualidade de interesse e de au- xilios, fazer da officina vivenda de goso e de trabalho, dftstituir o lupanar pela sala da musica, a taberna repu- gnante pelo gabinete de leitura, e não deixar a prostitui- ção como triste herança da miséria, se não pela associa- ção? São estas as novas conquistas; são estas conquistas as que Thomaz Ribeiro cantou; são aquellas que elle viu despontar vividas, floridas, na festa de 5 de maio, do Centro Promotor Esperanças muitas ainda; mas todas promettedoras de larga fecundidade. Chateaubriand, irmão em arte de Thomaz Ribeiro, que a historia não pôde accusar de se inspirar nas sociedades revolucionarias, disse como profundo philosopho e tam- bém como homem que longe via, que a sociedade não podia continuar a existir conforme as bases em que as- sentava a sua existência actual. Isto era o prenuncio da revolução social. Thomaz Ribeiro poz-lhe o nome:€ha- mou-lhe— a nova conquista. As velhas, disse elle, acatan- do-as, são da historia. E também a historia ha de fazer justiça inteira áquelles que com seu inspirado estro ani- maram os pelejadores das modernas conquistas a derrocar as ultimas barreiras da insociabil idade. O Centro sempre deveu carinhos e finezas a poetas, porque q poesia não satisfaz só devaneios do espirito, acompanha as grandes revoluções; é ella quasi sempre sua nuncia, e muitas vezes o facho brilhante que as con- duz atravez a escuridão dos tempos. Castilho, o inspirado cantor do trabalho e o ameno mestre escola do povo, rei pela poesia e rei pela idéa nova da instrucção, Castilho abrigou nas suas salas o Centro Promotor,- nos primeiros dias da sua existência. Mais de uma festejada lyra* lhe consagrou então desvelos e cuidados, augmentando-Ihe a reputação, e agora vem Thomaz Ribeiro, com a fromer radiante de gloria immensa, depois de ter firmado o marco milliario da sua posteridade, que já começou, dedicar-lhe um poema, no qual cada palavra é uma idéa, e cada idéa significa um bem social. É por isso, ex. mo sr., que o Centro Promotor vos no- meou seu sócio benemérito entre geraes applausos, e que, sabedor dos dotes que dominam vossa alma, vos pediu que permittisseis a impressão do poema, e que seu producto applicado fosse a obra philantropica, onde poeta e instituição, ficassem, em liame modesto, mas exemplar, perfeitamente ligados. Também votou o Centro que outro exemplar fosse en- viado a cada um dos honrados cidadãos, que na qualidade de sócios d'aquella associação, ou a ella estranhos, mais contribuíram para o luzimento da festa social de 5 de maio. A mais subida recompensa que a assembléa podia votar para tão altos serviços era esta. Era aproximar o cantor do artifice, quepozera engenho e trabalho n*aquella solemne manifestação do estado culto e social do povo portuguez. XI Mais determinou o Centro que um exemplar do poema fosse enviado a cada uma das associações do reino. Do que a associação tem já ganho n'esta terra para a civili- saçao e bem estar das classes trabalhadoras, e mesmo para todas asilasses sociaes, não quer o Centro nem re- motamente gloria só para si; ella cabe a todos esses be- neméritos corpos sociaes, de que o Centro não é mais, e bem alto aqui o -proclama, do que irmão e amigo. Por esta forma irá o poema de v. ex. a levar coragem a ^los os homens que de bom animo e fé robusta andam trabalhando na obra nova, o que para elles será como generosa paga de tantas amarguras, de tantas feridas re- cebidas no constante lidar d'este apostolado immenso. São estas, ex. mo sr., as manifestações que do seu eterno, reconhecimento dá o Centro Promotor, ao auctor das novas conquistas; são pequenas, bem o sabe elle, mas par- tem do sincero affecto popular, que para v. ex. a , digno representante do povo, tem quilate de ordem superior. Deus guarde a v. ex. a — Secretaria do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, 5 de janeiro de 1864. HL- e li." Sr. Thomaz Ribeiro. PRESIDENTE Franctooo Vieira da «llTa. OS SECRETÁRIOS Paulino Augusto» de C a iy Vheamda. Cario* Eugénio Corrêa* m ILL mos Srs. Acabo de receber o officio de w. s. w como represen- . tantes do Centro Promotor dos Melhoramentos das Clas- ses Laboriosas, datado de 5 do corrente. Li com summo prazer este documento, que é aa mes- mo tempo o testemunho da vossa illustração e da largueza das vossas nobres aspirações, a fé pura do vosso presen- te, a esperança radiosa do vosso futuro, o credo da vossa religião. E pois que me conferis o diploma de vosso consócio, haveis de permittir-me que vos falle como de irmão a ir- mãos, e como tal vos diga, que, sendo vós bons para todos, justos sempre, e modestos em tudo, quizestes ser para comigo exagerados e excessivos. Enganaram-vos certamente as vossas vistas generosas ; e destes-me um logar que me não compete. Eu não es- crevi a epopeia das novas conquistas, alcançadas por vós, á custa de muitas fadigas : dei-vos um signal da minha XIV surpreza e do meu entusiasmo; não vim como sacerdote, mas como romeiro, ao templo augusto do trabalho. Quizestes dar-me um logar ao vosso lado; aceito e agradeço-vos do fundo d'alma. Tendes um aprendiz mais na officina; distribui-lhe trabalho para que elle se torne digno de vós. Houve um tempo, senhores, em que se julgou que só a guerra, — o fratricidio estrondoso — fazia a grandeza, a gloria, a segurança das nações. O trabalho era o mister servil dos desherdados da fortuna; a officina era um vifl* pendio, a blusa um sambenito. As classes operarias, arrastavam-se deseducadas e desprotegidas no limbo in- glório do obscurantismo, que as preoccupações nobiliárias lhe não deixavam transpor. O christianismo fizera a luz para todos, e lavrara para os opprimidos a carta de al- forria; e comtudo, por muitos séculos ainda, se conserva-: ram fechadas as portas d'aquelle encerro. Por fim os braços robustos da liberdade affrontaram e demoliram os muros e os tectos d'aquella Bastilha horrenda, em que estavam encarcerados tantos beneméritos da humana dade. Foi providencial e milagroso o desabrochar e o florir de tantas plantas enfezadas, mal sé viram aquecidas ao sol benéfico das instituições liberaes; os fructos annun- ciaram-se logo, taes como se manifestam hoje: opíparos e abundantes. O sagrado pomar desde que lhe deram terra, sol e agua, não teve nem pediu a ninguém cuidados de cultura : ergueu-se, alargou a rama, firmou-se na sua própria raiz, e protegeu-se com a sua própria sombra. XV Fez-se amado illustrando-se, fez-se considerado respei- tai! do-se, fez-se respeitado assoei ando-se. Ahi tendes as novas çonqcisus, soldados laureados das campanhas da civilisaeão; a vós as deveis, a vós as deve- mos, - : voluntários do progresso! O trabalho conquistou o direito de cidade ! nunca mais o ha de perder; mas é mister não descoroçoar. Eu sei que a fadiga é Ímproba; mas é para mais a coragem do homem quando se inspira da verdade dos princípios, da êfficacia dos meios, e da santidade dos fins. Deixaelá duvidar e murmurar as turbas de ociosos e de inertes; vingae-vos d'elles redobrando de esforços. A quem vos chamar utopistas, não invejeis a prudência; lamentae-lhe a cegueira. Ha por ahi muito quem ria das fadigas de nós outros operários, motejando de nossos trabalhos, e quantas ve- zes calumniando as nossas intenções; é uma triste ver- dade, mas resignemo-nos; trabalhemos nós em quanto elles riem, considerando que temos de trabalhar para * nós e para elles. Os soldados das velhas conquistas precisavam de arrojo e coragem, os das novas precisam de paciência, que é a coragem d'esta milícia. Meus presados consócios e amigos: quereis que o meu trabalho tão modesto seja applicado a uma obra de cari- dade. Conferis-lhe uma nobresa que elle não merece, mas nisso mesmo se manifestam os corações dos filhos do povo il lustrado e bom. Sinto só que esses pobres versos não estejam na altura do seu destino. Consola-me aidéa de que a santidade do objecto, a que XVI o seu producto é destinado, ha de salvaguardal-os de más vontades, e de que os operários, a quem são offerecidos, hão de indemnisal-os em affecto, do qufr lhes falta em valia. Deus guarde a w. ss. M — Lisboa, 6 de janeiro de 4864. III."* Srs. Francisco fieira da Silva. Paulino Augusto de Campos Tfcendo. Carlos Eugénio Corrêa. * • VOSSO C0NS0Q0 Thomai Ribeiro. AS NOVAS CONQUISTAS As nobrezas d'outr'ora, são da historia, que em lettras (Toiro illustra acções de guerra. Correram tempos; transformou-se a gloria; mais vai que a luz do incêndio, a que illumina; mais faz que espada ou lança, escopro e serra ; mais, que mil arsenaes, uma officina. Hoje, é o trabalho o campo da batalha; a industria faz plantão fachina e guarda; soldado e general, é quem trabalha; é mais condecorado, o que mais faz; é-lhe bandeira, a sciencia; a blusa, farda; e santo e senha,— diligencia e paz. 18 AS NOVAS Não condemno o que foi; canto o que vejo dar lustre ao meu paiz e á minha edade; respeito a gloria antiga, não na invejo, que me não vai os bens que ora contemplo surdir d'entre o labor da humanidade. Tem fastos o presente: 'Ouvi-me um exemplo : Tinha acabado a festa; e eu vim sósinho escutando os conceitos dos convivas que saíam, como eu, do templo cívico tão rico de lições. Fora a festa brilhante: enlevo d'olhos, as mulheres e as rosas; enlevo d'alma, as oblações saudosas a dois grandes varões, filhos e astros da pátria em que nasceram, que viveram por ella, e que lhe deram almas, braços, palavra e corações. Exemplo a registrar, a paga á vista d'uma divida santa, ao varão forte, que emprega a vida em arrancar a morte o naufrago que anceia entro os baldões das ondas porcellosas. A esmola ao pobre, o refrigério ás dores; os prémios ás fadigas do operário; e como para esmalte ao santuário as graças da mulher, musica e flores. GONQUIStAS 49 * Á porta baixa de modesto albergue o que escutei, é bem que ouçais também; sào sinceras palavras d'um artista faltando a sua màe : — «Eis-me, cheguei, velhinha; aceita o meu diploma, premio do meu trabalho, honra de minha mãe! meu formoso quadro ! . . . hei-de envial-o a Roma ! e o diploma, na arca esconde-o, esconde-o bem! E quando alguno visinho, um d'esses preguiçosos que choram noite e dia o alheio galardão, vier fallar de mim com os olhos invejosos, e desdenhar do artista ennobrecido, então tira-o do fundo da arca, e aponta-lhe o meu nome ! que leia, que decore as phrases de louvor !. e dize-lhe, ateando a inveja que o consome: — Vede! meu filho é isto; e vós, que sois, senhor?»— — «Deixa abraçar-te, meu filho i meu pequeno artista; vae seguindo sempre esse trilho que te ensinara teu pae. Teu pae, sim, que te abençoa d'além da campa onde jaz; do reino onde a eterna c'rôa ílorece em perpetua paz. 20 AS NOVAS Conta-me, filho, o que viste n'essa festa que eu não vi, e que tudo quanto é triste fuja bem longe cTaqui.»— E a mãe beijava-lhe a testa; e o filho abraçava a mãe. Era o epilogo da festa; olhos, profanos não o vêem. — « Mãe : imagina um templo armado em grande gala ! . . . entre modesto e rico... entre officiha e sala; altar, sem subpedaneo, ou cruz, ou sobre-ceos, onde o trabalho só, tenha o logar de Deus; flores, luzes, orchestra, enchendo o santuário, e pontífice, o puro, o férvido operário; entre o opulento e o pobre, os homens do saber; entre o ministro e o par, as graças da mulher. Ahi tens o templo. Agora, o que lá foi de encanto, já sei que vais ouvil-o, ó mãe! banhada em pranto, que um extasis traduz d 'um grande coração : Qual em sagrado altar, no topo do salão, ha três retratos, três, em três molduras d'oiro; e cada um d'elles, mãe, vai o melhor thesoiro. Os nomes, ouve agora; e vê que a minha voz treme de os proferir, mesmo de sós a sós! se isto não é o assombro ante os clarões da gloria, CONQUISTAS Si desça da base a estatua i acabe o preito á historia ! Não ! não ! ! que o sinto aqui ; no coração fiel ! Um d'elles (curvo a fronte), é Passos Manuel! dos liberaes sem mancha, exemplo' e incitamento; o que do povo ouyiu lamento por lamento, e a cada pranto novo abria o coração. Teve dos seus o amor; não quiz mais galardão. Modesto e bom viveu; morreu honrado e pobre. Que nome tão singelo ! e que alma grande e nobre ! O coração, a vida, a paz, tudo elle deu á pátria, á liberdade, a tudo que foi seu! outro... era... o amigo... o pae dos opprimidos... Quero dizer-lhe o nome, e abafam-m'o os gemidos! Esse tribuno invicto; essa inspirada voz, que era o terror, o encanto, o amor de todos nós! Sabes? quem não conhece esse orador sublime? o abrigo da virtude ; o raio contra o crime ? ! Era impossível, mãe, quando elle ia a passar, ver-nos sem nos sorrir, vel-o sem o saudar. Animava-se a pátria em elle erguepdo o braço ; media d'um só voo as amplidões do espaço ! . . . Parece-me inda vel-o ! o augusto campeão, cheio de fé e esperança o altivo coração, em que do amor da pátria o sacro incêndio lavra ! gigante da tribuna ! artista da palavra ! Coróa-lhe um fulgor sublime, divinal, a fronte mais gentil que teve Portugal ! Falia? prendeu-nos já; somos do seu encanto; choramos entre o rir, rimos por entre o pranto; ' 3 AS NOVAS fulmina, implora, manda... ás vezes sem fallar, que tudo falia n'elle: o rosto, o gesto, o olhar. Nas lidas do trabalho, andou a sua enxada; e nas da liberdade, a voz, a penna, a espada.- Se um déspota assomar... Tu choras, minha mãe? : o morto deixa a campa! oh! vem; juro que vem!! Chora!... por elle, não! foi-lhe madrinha a gloria; e pantheon, a campa; e«apotheose, a historia. Chora, por que lhe é grato o preito funeral; chora por ti, por mim... por este Portugal! Ao pé de taes varões, á sombra d'e$t^ gloria, quem podes tu suppôr que estava ali? que historia te parece condigna á historia d'estes dois, que desse um companheiro ás sombras dos heroes? Um navegante audaz, temido em toda a parte, que fosse além do oceano erguer nosso estandarte? Um sábio conselheiro?... Um general, talvez, que desse fama e lustre ao nome portuguez?... Mas se elle é tão modesto, e o nome é tão singelo!... se fosse Gama, ou Castro, ou Pinto, ou Sousa, ou Mello!... se á mingoa d'appellido illustre, fosse... par, conde, barão ou duque, emfim um titular!... se ao [menos do thesoiro houvesse um bom salário... mas é plebeu e pobre o triste do operário ! . . . Eu disse : — operário ? — achei-lhe a profissão; nisto se cifra idéa, e braço, e coração. Seu nome vou dizer, roubal-ó e ingrato olvido: Joaquim Lopes!... vês tu? nem mais um appellido! Defronte do retrato estava o original. CONQUISTAS *3 Votar a gloria em vida, é raro em Portugal; pois fez-se ali! Por Deus bem foi, ver os- artistas, * correrem a postasse á frente de conquistas que hão de livrar do opprobrio a historia das nações, livrando da miséria os Miltons e os Camões. O velho estava ali, ao pé da sua gloria, entre os seus bons irmãos, ante o sorrir da historia. Mas d'este honrado velho a grande acção qual é? por que teve honras taes? queres saber por quê? Pergunta aos vagalhões do oceano revoltoso, se elle tremeu jamais ante o seu ronco iroso; se os filhos com seu choro, a esposa com seus ais, com seu escuro a noite, o raio, os vendavaes, fizeram trepidar o velho ante o presagio, as lutas, o clamor, as anciãs d'um naufrágio. Mal que do mar á praia assoma um ai de dor, na salvadora barca o homem salvador, lá corre sobranceiro ao horror do cataclismo, salvando a vaga e vaga, abismo sobre abismo. O corpo sem vigor que a onda ia tragar, encontra um braço e um lenho, e sobre a praia um lar. Ganhou (que os traz ao peito) hábitos e medalhas, nunca matando irmãos, mas a rasgar mortalhas. « ■ Olha a. distancia, ó mãe, que vai de heroe a heroe: um, mata; outro, dá vida; um, salva; outro, destroe. Que é do que em prol d'irmãos a sua vida emprega? ninguém na turba o vê; pois se a justiça é cega! Ao filho, pois, do povo, o povo ennobreceu; mais que reaes mercês, o povo ao povo deu. ?4 AS NOVAS Quando orares aos pés do Celestial Monarcha roga-lhe ampare sempre o remador e a barca. Era a noite para as glorias do homem que lida e sua c'o a fronte curvada e nua noite e dia em seu mister; para artistas e operários de cujas mil officinas surdem creações divinas que o mundo pasma de ver. Ali pois houve seu premio todo o esmerado trabalho que a serra, o tear, o malho, buril, escopro ou pincel mandou á cidade heróica; lidei por elle, ganhei-o; inda guardas no teu seio o documento fiel. Escuta o final : Á America, senhora d'além dos mares, terra dos virgens palmares e dos virgens corações, levou seu facho a discórdia com seu cortejo de horrores, e sobre fructos e flores jorra o sangue em borbotões. CONQUISTAS 15 Lambem as linguas do incêndio villas, plantações e roças, e dos casaes e das choças foge o colono infeliz. Deixa a aldeia pelo exercito ! a lida, pelas batalhas! o sulco, pelas muralhas!... E assim se mata um paiz ! Perde a cana o amor dulcíssimo ; seu doce fructo o coqueiro; e o modesto cafezeiro perde o seu próvido grão; o ananaz, a c'rôa opípara; a bananeira, os seus cachos; perde os seus alvos pennachos o humanitário algodão ! O algodão, que da indigência era a barata limpeza! o aceio de leito e meza, roupa, mortalha, enxoval! O algodão, que a tanto artífice dava o pão quotidiano, eil-o extincto além do oceano! eil-o extincto em Portugal ! Por isso vêem-se operários nas vastas praças do Porto, sem trabalho e sem conforto